Pigmentos Artísticos e as Cores Sacras 3

Botticelli - 1471 - Virgem com Criança

As pinturas sagradas feitas para a igreja ou para quem pudesse pagar por elas, eram magníficas, possuíam cores exuberantes, cenas dramáticas e levava os admiradores a despertar sentimentos por aquelas figuras... Essa era a verdadeira intenção!

Vamos conhecer um dos pigmentos mais incríveis de todas as épocas:

O Azul

Representando Deus, a Virgem e sua pureza, o azul do Céu a calmaria das águas... A cor azul dá a sensação de tranquilidade em uma pintura, propositalmente colocada nas obras para dar mais serenidade às figuras.

O que você talvez não saiba é que o primeiro pigmento Azul que temos notícia de uso artístico, nas sociedades mais desenvolvidas, pasmem, era sintético. Você achando que era tudo terra natural, pedrinha moída, nananinanão...

Os Egípcios produziram o pigmento Azul por fusão em meados de 2.200 a.C., isso mesmo, muito calor nos materiais como calcário + areia + algum mineral que contém cobre na sua composição, tipo uma pedra de malaquita.

Pintura Egípcia com azul sintético

Outra sociedade que usou muito bem a cor azul foram os Mayas, muito parecido com os Egípcios... Fizeram a cor Azul com o índigo (planta) + um mineral ( argila ) e muito calor...

Acredita que até hoje tá azul?

Mural Azul – civilização Maya - Século II D.C.

O azul extraído de plantas da família Tinctória, já era conhecido e foi muito utilizado pelos indianos por volta de 4mil a.C.. É um azul frio, gélido e era adicionado ao mineral que o deixava mais claro, acrescentando o calor para a fundição necessária, além disso, cientistas defendem que o fato desta cor ainda estar vívida poderia ser pelo uso constante da Resina Copal - uma resina muito dura - que fora amplamente utilizada nos rituais espirituais e pode ter sido empregada como verniz, favorecendo a permanência desta cor.

Vamos falar do mais nobre azul de todos os tempos...:

Lápis Lazúli

Virgem - Gerárd David – 1500

As primeiras pinturas com um azul vivido foram feitas com o pigmento Lápis-lazúli ou azul ultramar.  Datam do século VI. Um mineral azul lindíssimo, Com fios dourados, conhecido pelos Egípcios, entretanto, não conseguiram utilizar para pintura, mas aproveitaram para esculpir e colocar nas joias e seus adornos.

Johannes Vermeer - 1665 - Moça com brinco de pérola

Lembram que eu disse “quem pudesse pagar por elas”? Vejam só...:

Se naquele tempo já era fino assim para usar na confecção de joias, imagina mais pra frente?

O pigmento vinha do Afeganistão e chegava caríssimo na Europa, somente quem detivesse muito dinheiro era que podia pagar para os artistas rechear seus quadros.

O artista Piero di Cosimo foi um dos mestres Renascentistas que usou com muita maestria esse pigmento, conseguindo variar entre o escuro e o claro em belíssimas obras.

Piero di Cosimo 1490

Você encontra o pigmento Azul Ultramar, Lápis Lazúli verdadeiro, em lojas especializadas nos EUA, Europa e Ásia, tão caro quanto ouro.

Lápis Lazúli Puro

Alguns séculos depois...:

Um estudioso Alemão misturou acidentalmente Carbonato de Potássio com sangue animal em uma laca vermelha e criou um azul profundo muito lindo, era o século VII, chamado Azul da Prússia.

Espera aí!!? Criado na Alemanha, era pra se chamar Azul de Berlin... No Mínimo!

Bom, vamos à história por ela mesma... O reino da Prússia era onde hoje é a própria Alemanha... O cientista deu o nome inicial de Berlinisch Blau e cinco anos depois Preussisch blau.

Um azul incrível.

Onda de Nakagawa - Hokusai 1831

E tem mais azul chegando:

Outro Azul Magnífico é o pigmento Azul de Cobalto, um pigmento sintético feito a partir de cobalto, alumínio e oxigênio. Inventado por um Francês – Meados do século XVIII – foi uma opção mais barata para artistas como Turner, Renoir, e Van Gogh.

Pigmento puro Azul de Cobalto

Outro azul que encantou nas telas foi o Cerúleo, inventado por um alemão em 1805 e posteriormente distribuído como pigmento pela companhia Rowney. Esse Alemão fritou um óxido de magnésio com cobalto e vu-á-lá! – ou melhor – gesehen bei der!

Ele havia criado o azul cor-do-céu.

Marisot - 1879 - dia de verão

Mais adiante, por volta de 1880, outro Francês revolucionou o mercado da cor quando inventou o Azul Ultramar sintético, e graças a Ele podemos usar o Azul Ultramar com um preço bem mais acessível.

Ficou amplamente conhecido como Azul Klein – Por conta do estilista Yves Klein que até patenteou o chamado International Klein Blue IKB.

Klein Blue IKB

Que pode ser facilmente encontrado como o pigmento em pó Azul Ultramar Escuro ou na famosa tinta vinílica Italiana Maimeri Polycolor cor 390 que parece até um veludo.

Tinta Vinílica Maimeri Polycolor

Pigmentos puros na cor Azul

Existe uma variedade imensa de pigmentos azuis, escolha os pigmentos puros de boa procedência para não ter surpresas.

Fábio Oliveira

Consultor de materiais técnicos

para a Casa do Restaurador