Sexta-Feira, 28 de Abril de 2023

por Raul Costa

Pigmentos Artísticos e as Cores Sacras 5




Pigmentos Artísticos e as Cores Sacras 5

Madonna and the Child – Giotto – Século XIII

Madonna and the Child – Giotto – Século XIII


Por séculos analisamos e admiramos as pinturas dos mestres do passado, tudo nos intriga, assim como os segredos escondido em cada detalhe dos seus personagens, suas cores podem nos contar muito sobre seu criador e sua época, mesmo sem legenda. Vamos saber mais sobre uma cor admirável...


O Verde


Essa é a cor da Vida, Renascimento e Regeneração. A cor mais abundante da natureza traz harmonia, fertilidade, esperança, cura, etc. Pode representar alimento fresco e, ao mesmo tempo, apodrecendo. As primeiras impressões levavam às piores coisas, como o demônio, veneno, bruxaria, etc.


Santo Agostinho e o Demônio - 1475 - Michael Pacher

Santo Agostinho e o Demônio - 1475 - Michael Pacher


Historiadores dizem que o nome deriva do Inglês antigo, na palavra “Growan” ( Green ) que significa crescimento, relativo às plantas e hortaliças, renovação, vida, crescer, etc.



A Malaquita


Os Egípcios utilizaram a cor verde / verde azulado de pedras como a Malaquita, Turquesa e Chryscolla, eles pintavam de tudo, até sarcófagos de madeira.


Malaquita, Turquesa e outras Pedras

Malaquita, Turquesa e outras Pedras


Esta cor frequentemente aparece nas pinturas das divindades Hórus, Osíris e até Nefertari fora imortalizada em verde.


Malaquita, Chryscolla e Turquesa

Malaquita, Chryscolla e Turquesa


Acreditavam que a cor verde trazia bem-estar, cura e proteção.


Mural Egípcio - Século X a.C.

Mural Egípcio - Século X a.C.


O maior uso do verde Malaquita foi no período renascentista - séculos XIV a XVI, como na pintura do Jan Van Eyck – O casal Arnolfini  – As cores representam – além do prestígio da família – Como um registro de casamento que poucos podiam fazer, mostra sua saúde e o crescimento do bebê no ventre da esposa.


Casal Arnolfini - Jan Van Eyck - 1434

Casal Arnolfini - Jan Van Eyck - 1434



Verdigris


Originário da oxidação do cobre, bronze ou latão é uma cor muito ingrata, em contato com outros pigmentos como Orpiment ou lápis lazúli tende a escurecer, essa degradação se dá pelos resíduos alcalinos destes compostos. Leonardo Da Vinci relatava aos artistas no Tratado de Pintura para ficarem bem longe dessa cor.


Adoração dos Magos - Paolo Veronese - 1573

Adoração dos Magos - Paolo Veronese - 1573


Foram encontradas pinturas Egípcias com essa cor, descritos de uso como maquiagem e nos murais de Pompéia.

Manuscritos dos monges tibetanos, datados do século V a.C., nas pinturas miniaturas Chinesas e nas pinturas de iluminura da idade média.


Manuscrito - Iluminura - Século XIII

Manuscrito - Iluminura - Século XIII


Poucos tinham acesso ao pigmento devido à escassez, custo de produção e comércio, até os dias de hoje 1g pode custar $1 Euro.


Scheele Green

 

 A partir do Século XVII surgiram as cores, verde Scheele e Esmeralda (Verde Paris).


Mulher costurando - Friedrich - século XVIII

Mulher costurando - Friedrich - século XVIII


O químico Wilhelm Scheele criou um verde extremamente vibrante, que encheu os olhos dos artistas. Ficou tão popular que foi utilizada como corante para tecidos, nas pinturas artísticas e brinquedos... Aquela beleza toda era um convite da morte...  Credo!


Vestido tingido verde Scheele

Vestido tingido verde Scheele


Arsenite é um composto tóxico do perigosíssimo arsênico. Foi utilizado na pintura do papel de parede no quarto de Napoleão Bonaparte, advinha? Ele morreu!

Sabe os dizeres populares: “Ele ficou verde de raiva”; “Verde de enjoo, de inveja”?  

A cor verde Scheele era linda, muito difícil de conseguir nas misturas com os pigmentos disponíveis, e esse verde em especial se mostrou altamente mortal.


Verde Paris


Uma variação do Verde Scheele foi o Verde Paris, continha 50% arsênico e o restante era cal e Verdigris...


Monet - Vétheuil Paisagem - 1879

Monet - Vétheuil Paisagem - 1879


Também chamado de verde esmeralda pela cor semelhança à pedra preciosa.  O fato é que era tão tóxica que virou o inseticida mais famoso da época. Tornou-se ilegal em meados do século XIX. Nunca mais foi utilizada na pintura.


Terra verde



Imagina encontrar uma terra verde com variações claras e escuras, quase oliva?  A cor chamada verde-terra fora utilizada pelos mestres do passado como uma espécie de “coringa” nas suas paletas.


Pigmento puro – Variedade de Terra Verde

Pigmento puro – Variedade de Terra Verde



Muito mais barata que a Malaquita, encontrada nos retratos dos mortos de Fayum e até nos murais de Pompeia, a terra verde coloriu muitas pinturas de iconografia, paisagens e retratos dos anos 1300 até os dias de hoje. Encontrada desde Verona, Chipre, Inglaterra, sul da França e Alemanha, este pigmento é indispensável na paleta de todo artista. Suas cores variam do Verde Amarelado, Verde Acinzentado e Verde Oliva fosco escuro.


Paolo Veronese, Virídian e as Cores de Cromo


Conhecido pintor e colorista, Paolo Veronese enriqueceu o mundo da pintura com suas misturas de azuis e amarelos para criar verdes incríveis. Virídian é o substituto do Verdi Gris e do Verde Esmeralda (verde Paris). Esse verde é uma cor singular, inventado em meados de 1800, o óxido de cromo hidratado é difundido até hoje como pigmento artístico estável, com transparência e durabilidade.


Lucretia - Paolo Veronese - 1580

Lucretia - Paolo Veronese - 1580


No inicio do século XIX, com a invenção dos pigmentos modernos de Ftalocianina e aperfeiçoamento do Cromo hidratado, os artistas tiveram uma opção acessível e menos tóxica para seus trabalhos.


Baía de Eustáquio - Cèzanne - 1882

Baía de Eustáquio - Cèzanne - 1882


Mesmo com as modernas invenções dos verdes, não resistimos às misturas de azuis e amarelos para encontrar novas tonalidades... Você já misturou Terra de Siena natural com Azul Phtalo? Dá uma cor Verde-Oliva perfeita. Divirta-se!


Fábio Oliveira

Consultor de materiais técnicos

para a Casa do Restaurador